Artigos veiculados no Jornal “O GLOBO”
Jornalista : Márcia Cezimbra
Comentários : Psicóloga Edy Maria Alves de Oliveira
Livros revelam relação da atriz com psicanalistas e apontam indícios de seu suposto assassinato.
MARILYN MONROE não se suicidou, por acaso ou de propósito, como atesta a versão oficial sobre sua morte, no dia 4 de agosto de 1962. A atriz poderia ter sido assassinada pela CIA, que gostaria de incriminar seu amante, Bob Kennedy; ou pelo próprio Kennedy, atormentado com as ameaças da loura que sabia demais. E a “injeção fatal” foi dada, propositalmente ou por erro médico, por ninguém menos que seu psicanalista, Ralph Greenson, discípulo de Anna Freud, com quem tinha controvertida e perigosa ligação. Marilyn já tinha sido reanimada por enfermeiros de sua overdose de barbitúricos, quando Greenson apresentou-se como seu médico, mandou suspender o oxigênio e lhe aplicou uma suspeita injeção no coração.
Estas são as novidades sobre a morte de um dos maiores símbolos sexuais do planeta, reveladas em dois novos livros sobre a estrela trágica de Hollywood. O primeiro, “Marilyn, retrato de uma estrela” (Zahar), de Marie-Magdeleine Lessana, é uma biografia que conta o drama da menina rejeitada pela mãe doente mental e de pai desconhecido, adotada, sucessivamente, por 12 famílias até chegar ao desvalorizado estrelato. E recolhe inúmeras pistas de um possível assassinato, no qual figuram, entre envolvidos e suspeitos, Frank Sinatra e a máfia, a CIA, Bob Kennedy, e, especialmente, seu psicanalista Greenson. Mistérios à parte, a autora traça um comovente perfil de uma orfandade sem precedentes, que Anna Freud compara à das crianças dos campos de concentração.
O segundo é uma ficção biográfica, “Marilyn, dernières séances”, lançada na França pelo psicanalista Michel Schneider, que chegará ao Brasil em 2007 (Alfaguarra), sobre uma intensa ligação — freudiana, claro — entre Marilyn e Greenson. O fato é que Greenson ficou mal após a morte da atriz e foi consolado por Anna Freud. Os trechos interessantes das cartas estão em “Marilyn” e mostram que, como psicanalista, ele deixou bastante a desejar. Primeiro porque Greenson é “contra” o desejo crucial de Marilyn de ser respeitada como atriz séria. Ele diz que ela deveria parar de bobagem e ser o que ela é, ou seja, apenas uma atriz de comédias ingênuas. Ou seja, não a leva em conta, desprezando-a como seus pais. Depois, dá esta bandeira a Anna Freud de sua dependência: “Acho que ela vai conseguir viver sem mim, mas não tenho certeza de que sobreviverei a isso.”
Descontados os erros de Greenson, será que a psicanálise poderia evitar o suicídio de Marilyn? Para a psicóloga Edy Maria Oliveira, claro que sim, se tivesse trabalhado seus problemas estruturais que eram a rejeição brutal pela mãe e pelo pai; o aprendizado de ser uma órfã sempre desvalorizada e desrespeitada, que Marilyn levou para seus contratos profissionais; a raiva da figura feminina que a impulsionou a ser, por vingança, a melhor das mulheres; a vivência de que só poderia atrair o afeto dos homens através da sedução, o que aprendeu em sucessivos abusos sexuais.
— A psicanálise não tinha estes conhecimentos na época. A própria Anna Freud erra ao comparar Marilyn às crianças do Holocausto, que viveram uma tragédia, mas não foram rejeitadas pelos pais. Hoje sabemos que a rejeição pelos pais é muito mais grave — diz Edy Maria.
O psicanalista José Renato Avzaradel concorda que a psicanálise poderia evitar o suicídio da atriz, se Greenson cuidasse de sua orfandade, em vez de controlar sua vida: — Se a pessoa está viva, há a prova inequívoca do impulso de vida que a psicanálise pode reforçar. Esse psicanalista, em vez de cuidar dela, decidiu resolver sua vida, ignorando-a, como fizeram seus pais. É muita pretensão. Se, muitas vezes, não sabemos o que é melhor para nós, como saber o que é melhor para os outros?
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